sábado, 31 de janeiro de 2009

A recompensa

Parecia que seus dedos nunca tinham escrito se quer uma palavra que fosse. Escrevia com tanta sede, segurava o lápis com tamanha precisão, que a folha de papel sequer ousou sair do lugar enquanto ruminava. A respiração ofegante de emoção esbanjava desespero e, ansiedade, inquietação. Palavras saíam da ponta do lápis levemente dispostas a escrever uma história jamais escrita, como jamais acontecera a ele. 'São as palavras que nos escolhem, não nós que as escolhemos', lembrou. E por um instante sentiu um acolhimento sincero, 'vieram para mim', pensou.
Os indícios de um arrebatamento emocional continuavam ao chão, refletindo os raios do sol que os iluminavam. Emoções borbulhavam dentro de si. Pouco se importava, continuava a escrever e ignorava tudo ao seu redor. Só o que lhe importava naquele momento era o que sentia por dentro. Era tudo o que queria, o que precisava. Olhou por um instante para o chão, exatamente no momento em que um dos cacos ficou mais iluminado por um dos raios do sol que entravam pela janela, 'uma xícara a mais, a menos, que diferença faz? Nenhuma. Essas coisas que a gente ganha quando casa e ficam aí, pedindo para serem quebradas, bah. A única coisa faltosa é o café. Santo café que me acompanha sempre', resmungou em pensamento.
Ficou sentado ali escrevendo, ofegante, escrevendo, respirando, sentindo, transpirando, concentrado durante horas a fio. Nem sequer olhou que horas eram, mas já havia notado que o sol já estava para se por. Sentiu seus músculos doloridos de ficar tanto tempo numa mesma posição. Largou o lápis, empurrou os escritos para o lado e espreguiçou-se. Levou os braços a cima da cabeça, esticou o tronco, estralou os dedos, o pescoço, esticou os braços, e respirou fundo.
Sentiu-se renovado. Ainda estava sobre o efeito das palavras que saíram de dentro. Levantou-se e espreguiçou-se novamente. Pisou em cima de todos os cacos como se não estivessem lhe cortando, ia andando em direção à janela, e, quando estava para chegar mais perto, pisou fundo nos cacos, fechou os olhos, e um grito saiu de dentro de si. Respirou fundo.
Debruçou-se na janela, olhou para baixo e não havia ninguém na rua. Sua visão do décimo quinto andar não era muito a favor de olhar as pessoas lá em baixo. Ficou tonto, resolveu voltar para dentro.
Sentiu a vida. Sentiu-se vivo. Encheu o peito de ar. Respirou e inspirou. Tomou fôlego, e mergulhou em sua cama. Ficou ali durante minutos olhando para o teto e com os pés machucados para fora da cama. Começou a sentir a dor, retorceu os pés, mas não deu importância. E finalmente ali ficou, quieto, sem nem sequer lembrar da falta que a voz da Ella fazia, virou para o lado, acomodou-se nos cobertores, fechou os olhos e dormiu.

4 comentários:

  1. isso costumava a funcionar. mas hoje fecho os olhos e tenho pesadelos. :/
    mas obrigada pela dica. é sempre bom. ;)

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  2. cuidado para não ser processada, anda publicando váriso trechos do seu livro de cabeceira rsrsrs
    beijasso

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  3. que livro é esse?

    se eu te disser que essa música é tipo um rap, você vai ficar chocada? eu fiquei. hahaha.

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  4. o escritor nasceu de mim, gente.

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