terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Tudo o que é sólido desmancha no ar

Há muito tempo atrás, uma vez, em um sábado ensolarado me recusei a sair de casa. Queria porque queria terminar de ler um livro. Não me lembro qual era, mas lembro que desliguei o celular, a televisão, não atendi mais o telefone, aproveitei que estava sozinha em casa e fiquei ali, mergulhada na leitura. E quando o dia terminou, eu já estava começando a ler outro. Mas o fato é que depois daí, nunca mais parei, e hoje tenho uma certa compulsão por livros, mas o tempo nem sempre é meu aliado.
Tudo o que é sólido desmancha no ar-A aventura da modernidade, de Marshall Berman, foi um desses em que deixei o mundo lá fora, e me entreguei, isso, depois de um bom tempo de estranhamento, porque garanto, o livro não é muito fácil de engolir. Dias e dias ficou encostado até eu respirar fundo, criar coragem e ler a primeira palavra.
Me encantei com Fausto de Goethe, e me comprometi come ele até o final do ano. Resolvi tirar O Manifesto do Partido Comunista da prateleira, e cortar a barba de Marx, junto com umas sapateadas bem dadas na barata de A Metamorfose de Kafka.
Descobri que Paris é filha de Le Corbusier, que Baudelaire sabia muito sobre verdade, arte e beleza, que foram os Russos que inventaram o samovar, e que eles em Petersburgo, tem uma rua chamada Nevski onde tudo acontece, e que seria bem interessante encontrar o John Reed passeando por lá para umas conversas. Descobri também que Nova York tem uma magia por trás de todas as paredes que não imaginava. E que tudo o que é sólido desmancha no ar, sim. Salve Karl Marx!
Completo e cansativo, exige transpiração e principalmente respiração. É um bom livro. Vai desde o século XIX até uma prévia do que seria a modernidade em que vivemos nos dias de hoje, não deixando o capitalismo livre de toda a culpa, claro. Também passa por diversos autores, com o compromisso de lidar com as diversas áreas do saber fazendo um paralelo com a bendita -ou seria maldita?- modernidade. É um choquinho de realidade. Pra mim foi. Recomendo a todos que gostem de sofrer um pouquinho!

5 comentários:

  1. Geléia, quando li Kafka fiquei impressionada. Fui até o final e não sabia pq tinha terminado ali. Admiro os escritores que nos prendem e depois nos abandonam com cara de... de... sei lá, de... baratas?

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  2. Vc será uma ótima crítica literária!
    Very good

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  3. é que você escreveu em itálico, achei que fosse citação.
    mas você escreve bem pra cacete. o assunto, no caso, é o que menos importa. o que importa é a forma como você escreve. como o texto evolui e se desenvolve. genial. muito bom mesmo.

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  4. fico tão mais tão orgulhosa!

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  5. Não quero sofrer com a realidade, prefiro sofrer com a ficção. Um sofrimento verdadeiro e impuro. Um beijim

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