sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Sutil irritabilidade

Ponho o pé direito fora da cama e ela está lá, olhando para mim. Não aguento a soberba que vem dela. Passo por ela e finjo que não vi. Mas ela continua lá. Olhando para mim. É quase que impossível ignorá-la. Mas por algum tempo consigo, até ela passar como um caminhão a minha volta. "Páre de fingir", ela diz. Vou sentido oposto, ela persegue. Fica ali, me olhando, esperando pelo momento certo. Até que algo dá errado e abro a guarda. Deixo ela entrar, abro espaço. A felicidade dela está feita e a minha, torturada. O mundo todo balança. Todas as pessoas são dinossauros e nada mais é concreto. O café continua frio. Opão mucho. O dedinho lateja. Os livros não lidos. A conta no banco. Os papéis. A cobrança. As obrigações. A ansiedade invade. As bochechas se enchem de ar. As palavras saem como alfinetes. E tudo dá errado. O choro engolido. O travesseiro suplicar um grito. E a vontade de estar entre um abismo e jogar tudo fora existe. E foi ela que trouxe. Mas é assim. Põe tudo ao contrário. E ninguém vê. Depois, tudo parece ficar bem. Mas ela ainda está lá. Esperando o momento certo. Afinal, deve haver sutileza.

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