domingo, 9 de maio de 2010

QG de fantasias

Entre fagulhas, angústias e medos, algumas conversas chegam até ela como que propositalmente. (E, sinceramente, o meu jeito de escrever chega a ser cansativo às vezes. Estou farta dele. Já não há mais sobre o que tanto falar e eu ainda insisto em insistir). Deixando os floreios de lado voltemos às fagulhas angústias e medos: ela disse que tudo hoje faz muito sentido em relação aos acontecimentos passados. Enquanto  isso, o Legião Urbana contaminava o ambiente com a cocaína em forma de tristeza. Quis dizer, na verdade, que lembrava dos momentos de criança, em que se trancava no quarto para ouvir músicas em uma fitinha cassete especial em que tinha de um lado Black Sabath e do outro Janis Joplin, além dos momentos em que ficava em silêncio, deitava no chão e ia de pedaço em pedaço copiando as letras que Renato Russo cantava só porque também queria saber Faroeste Caboclo de cor como todo mundo.
Entre suspiros angústias e indagações, lembrou dele e olhou milésimas vezes para o celular esperando que ele emitisse algum som. E na-da. Nada. Ele não toca. Ele não liga. A outra a lembrou que uma vez, nas férias, quando sua avó já deixara esta parte territorial do mundo, que todos os amigos vinham chamá-la para sair, brincar e se divertir -coisas de criança, e ela recusava. Preferia ficar entre televisões, livros e a fitinha do Black Sabbath. Na maioria das vezes ficava em seu quarto, lugar que na época servia de QG para suas fantasias. "Changes" começou a tocar no rádio, e uma lágrima silenciosa caiu de seus olhos. Não deixou que ninguém visse. "I'm going throug changes...".
Pensou que tudo hoje faz sentido. É hoje o que é porque é o que sempre foi.  Nada mudou.  Ainda é a mesma. Ainda é a mesma menina que se tranca em meio a livros, fitas cassetes e lápis e papéis. Com a diferença de que agora amores e desamores desgarrados cheios de paixões sem saber o porquê a preenchem. E não sabe o porquê de se entregar a eles. Ao menos sente.

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