domingo, 1 de novembro de 2009

22:30 - Um péssimo horário para morrer

“Tudo exatamente como planejei. Tudo exatamente como eu planejei. Sabe o que acontece agora que matei? Matarei. Matarei. Matarei. Matarei”.
Matanza – Matarei


Cansados, exaustos, impacientes, frenéticos, preocupados e ansiosos em uma sexta-feira (30), véspera de feriado em São Paulo. Feriado este, em homenagem àqueles que já se foram, aos chamados, finados, enfim. Uma espécide de celebração à nostalgia do fim.
Sentados, queriam chegar em casa, quando todas as luzes se apagaram com o trem ainda em movimento. De súbito, as portas abriram e as únicas luzes que restaram foram as da estação. A curiosidade por saber o que estava a acontecer foi imensa. 

Só sei do que vi
A música parou de tocar nos ouvidos; os pés ficaram inquietos; as mãos começaram a suar frio; as bolsas e mochilas foram apertadas ao corpo; as conversas foram deixadas pela metade; o medo do desconhecido e os outros sentidos foram atiçados. A única coisa que se fazia sabida era a de que todos ali queriam chegar em casa, sãos e salvos. De repente um sinal, e a luz-no-fim-do-túnel: “atenção! Estamos parados devido à presença de usuário na via na estação à frente, Anhangabaú”. Todos, mesmo que inconsciente, soltaram um coro que inspirou metade tristeza e metade indignação. Como pode um peixe vivo viver fora da água fria? Tsc, tsc.

Em respeito ao fim
Maria de Lourdes, 57 anos, resmungou o tempo todo: “não poderia ser pior? Trabalhei o dia inteiro, aguentei chefe na minha orelha, cobri o plantão de duas pessoas e ainda tenho que enfrentar isso para ir embora? É um absurdo! Pode até se matar, mas não estraga a vida dos outros, né?”.
O caos instaurou-se. De tanto que foi, o riso no rosto das pessoas era inerente à situação. Não havia mais solução. Nenhum trem passou e a estação ficou lotada. Só rindo para não chorar. Ficaram a mercê de uma voz que pronunciava de cinco em cinco minutos calmamente: “senhores usuários, estamos circulando com velocidade reduzida, devido a presença de usuário na via”. Às vinte e duas horas e trinta minutos de uma sexta-feira, véspera de feriado. Definitivamente, um péssimo horário para morrer. Mas quem é Deus, afinal, não é? Às vinte e três horas e quarenta minutos, a normalidade voltou. Claro, em respeito ao finado fim.

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