terça-feira, 3 de novembro de 2009

O Fernando fala muito da minha Pessoa

No entardecer dos dias de verão, às vezes
Ainda que não haja brisa nenhuma, parece
Que passa, um momento, uma leve brisa
Mas as árvores permanecem imóveis
Em todas as folhas das suas folhas
E os nossos sentidos tiveram uma ilusão,
Tiveram a ilusão do que lhes agradaria.

Ah, os sentidos, os doentes que veem e ouvem!
Fôssemos nós como devíamos ser
E não haveria em nós necessidade de ilusão
Bastar-nos-ia sentir com clareza a vida
E nem repararmos para que há sentidos.

Mas graças a Deus que há imperfeição no mundo
Porque a imperfeição é uma coisa,
E haver gente que erra é original,
E haver gente doente torna o mundo engraçado.
Se não houvesse imperfeição, havia uma coisa a menos,
E deve haver muita coisa
Para termos muito que ver e ouvir
(Enquanto os olhos e ouvidos não se fecham).

Fernando Pessoa -ou melhor dizendo-, Alberto Caeiro em uma das páginas de seus poemas completos.

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