segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A rainha dos chocolates da estação

Nivalda Pereira da Silva é vendedora ambulante de chocolates. Ambulante, porque todas as noites encontro com ela, sempre com sua cestinha de vime e com bom humor, vendendo seus chocolates nas noites de São Paulo, ao sair da estação Alto do Ipiranga no caminho de volta pra casa.

Faça chuva ou faça sol, Nivalda, gasta todas as suas tardes e manhãs para fazer mais de oito sabores de chocolates variados entre trufas e pirulitos de chocolate para, em todas as noites, vender aos seus fregueses antigos e também novos que aparecem a cada parada do trem na estação.

Paraibana, veio para a capital financeira do país em 2004 tentar uma vida melhor. Quando chegou aqui, o lugar que escolheu para morar foi pra lá de São Caetano do Sul, na grande São Paulo. Aos 55 anos, com a disposição de uma adolescente, ela afirma veemente que vem todos os dias apé de lá até o ponto que vende seus doces.

Baixinha, dos cabelos crespos alisados, tem a pele queimada do sol e um sotaque típico do nordeste. Apesar de vender chocolates, não gosta de doces e tenta não experimentar os que faz. No final, quem serve de cobaia são os familiares e vizinhos. Simpática, mesmo no frio ou na chuva, atende a todos com seu bom humor e sua simpatia para atrair as notinhas de dois reais do bolso dos fregueses.

Depois de muito conversar, no frio, ela reclamou do tempo e disse que estava com calor, que a garoa e esse tempo gelado não são nada, e tirou o casaco para mostrar que está de mangas curtas por baixo e que o casaco serve apenas de caixa para guardar seus pagamentos de todo o dia e balança os bolsos para as moedas tilintarem.

Dona "Ni" não tem marido que a sustente. Batalhadora, achou nos doces um jeito de ganhar a vida e fazer amizades. Da Paraíba, só trouxe sua filha, e mora com ela até hoje. A menina, com ambições maiores do que a da mãe, passou na faculdade de Biologia. Sem condições para pagar, começou, por incentivo de própria a fazer trufas para pagar os estudos.

-A gente pagava um semestre e negociava o outro. Era do jeito que dava. Hoje ela está se formando em biologia, e não faz mais chocolates.

Todos os meses, entre trancos, barrancos, simpatia, suor e chocolates, ela consegue pagar as contas todo mês. Agora, com a filha trabalhando na área, a vida ficou um pouco mais fácil, mas nem tanto assim. O cuidado com os bombons tem que ser redobrado. Tanto na hora de fazer, quanto na hora de vender.

-Tem dia que eu e o menino da pipoca saímos correndo dos guardas. Uma vez me levaram todas as minhas trufas!

Nivalda ficou conhecida como a vendedora de bombons da área mas, depois de vários assaltos quase que a mão armada dos policiais, resolveu se precaver. Para fingir que está apenas ali para esperar o ônibus chegar, além da cesta de vime, ela também leva uma mala de viagem pequena e esconde os doces dos gulosos de plantão.

Ela se queixa e conta que antigamente fazia mais de 45 sabores de trufas e pirulitos de chocolates, mas depois que os caras do “rapa” levaram mais de três vezes todos os bombons, hoje faz apenas oito sabores de trufa: prestígio, maracujá, tradicional, cereja, limão, brigadeiro, amarula e coco. Além dos pirulitos em forma de coração no sabor tradicional e limão.

Além das iguarias tradicionais, Dona Nivalda também atende a certas necessidades exóticas e se diverte muito com isso. Quando você menos espera, ela saca uma surpresa da mala e mostra para suas freguesas um novo tipo de chocolate que serve como presente também. É um CD feito de chocolate que, com letras garrafais, está escrito, “você é d +”.

-Tá vendo? Dá pra rechear, colocar as letras de cor diferente e dar de presente. Não é o máximo?

Para outra freguesa, sentada cabisbaixa á espera de uma carona para chegar em casa, ela mostra o CD inovador no mercado de chocolates e diz também que há outro tipo de chocolate que ela faz: o masculino. E cai na risada. A freguesa, que tinha comprado uma trufa de prestígio não entendeu e perguntou que tipo era esse.

-Menina, todas as mulheres adoram! Eu tenho um monte de encomenda! Vem até com presentinho e, de  sobra, dá até pra rechear com leite condensado. Depois, se você quiser, eu te dou o meu cartão.

A moça riu e só entendeu quando viu, na mão de Nivalda, um orgão sexual masculino de perfil, perfeito, feito de chocolate e recheado com leite condensado. Nada mais sugetivo, não? Além disso, o "presentinho" a que ela se referia eram os testículos do órgão. A moça caiu na risada junto com Nivalda e enrubeceu as bochechas.

Dona Nivalda, a única rainha dos chocolates da estação, se diverte, todos os dias, ao vender seus chocolates para seus fregueses a cada parada de trem na estação de metrô. E sim, faz isso com muito prazer, sem preguiça, e com muita, muita história pra contar.

3 comentários:

  1. São várias as personas personagens da vida, n!?

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  2. AMO VENDE CHOCOLATE NAS RUA MAIS TO CANSADA QUERO SER FAMOSA COM MEUS CHOCOLATE TODOS FALAM HUMMM QUE DELICIA MAIS AINDA NIMGUEN ME CONHECE SOU MARIASHOWDASTRUFAS

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