sábado, 23 de janeiro de 2010

A saga do herói de Saramago

Caim, primogênito de Adão e Eva, é o nome do mais recente livro de José Saramago. Nele, a saga de Caim após matar cruelmente seu irmão Abel, é descrita de um modo dinâmico e irônico, que chega a divertir. Isso porque, além de condenado a andar errante pelo mundo, sem se dar conta, Caim dorme e acorda em épocas e situações diferentes. Assim, o autor faz com que o personagem participe de várias passagens do Antigo Testamento, e até chegue ao cúmulo de alterar o destino da Arca de Noé.
Um Deus que castiga, impiedoso, prepotente e que anseia por varrer da terra todos os homens de bem e também os que não são, é o Deus de Saramago. Caim, em sua jornada, desafia a todo o tempo o "todo-poderoso", que em dado momento é até chamado de “filho-da-puta”, literalmente.  Saramago disse em entrevista à Folha de São Paulo que, por meio dele, tenta expor a "infinita dimensão da estupidez humana", capaz de acreditar em fábulas como essas. "Caim é o que nasceu para ver o inenarrável, caim é o que odeia deus", escreveu o escritor.
O livro contém um dos diálogos mais interessantes entre um homem e uma mulher. Em determinado momento, Caim se torna homem de Lilith e ao voltar a ela -porque, afinal de contas, é condenado a ser um andarilho por toda a eternidade –os dois têm uma conversa em que Caim faz um resumo de tudo o que viu: “O que não pode ser bom é um Deus que dá ordem a um pai que mate e queime na fogueira seu próprio filho só para provar a sua fé, isso nem o mais maligno dos demônios o mandaria fazer”.

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